19 maio, 2024

Sobre a Brevidade da Vida

Sobre a brevidade da Vida.

[proposta de escrita sobre a brevidade da vida, na conclusão do curso de especialização em Yoga da Morte, orientado pelo meu estimado professor Marco Peralta]

A vós meus melhores amigos, mas também meus filhos, Marco, Angel e Joana, venho-vos falar sobre a brevidade da vida. Tudo oque vos direi será baseado no meu próprio tempo e experiências.
Tal como vocês, vivi a minha juventude achando-me imortal. Pensar sobre a brevidade da vida e que esta poderia terminar a qualquer momento era uma ideia abstrata. Se bem recordo os meus dias sucediam-se de um modo geral mais focada nos meus afazeres diários de jovem mãe.
Sonhos, tive-os muitos. Utopias, chamam-lhe aqueles que, a meu ver, não conseguiam enxergar mais além do familiar, do óbvio, do confortável. Dessa época nada me arrependo meus filhos. 
Tal como Eduardo Galeano citou um dia: "se a utopia está no horizonte e se caminhas na sua direção e nunca a consegues alcançar, então para que serve? - Serve para caminhar!".
Pôr os meus olhos nesse horizonte inalcançável, essa utopia, serviu-me pois para caminhar. Mais ainda, manteve-me em pé. Ainda hoje!
Nunca desistam dos vossos sonhos!

Depois de algumas décadas tentando ser quem não era realmente. Buscando aceitação e aprovação nos outros, só me tornei mais infeliz. Esqueci-me de mim.
Foi necessária uma verdadeira revolução. Chorei rios de sangue, cortei amarras de fel. Cabeças rolaram no chão, uma delas, a minha.
Arranquei a própria pele e depois, totalmente nua, tal como um recém-nascido, entreguei o coração a um novo mundo meu.

A ti Marco, o primogénito mais querido, que ainda pré-adolescente presenciaste a minha quase morte em vida. Como pude desperdiçar tempo em angústias vãs, tendo-te ali às minhas pernas agarrado. Eu, a tua âncora! 
Agora também és pai. Que te sirvam os meus conselhos como guia, para que possas por tua vez, passar os mesmos princípios à tua descendência.
Acredito na força do teu coração. Sempre evocaste em mim a imagem de um tigre. Esse coração de tigre alberga imensa sensibilidade e ternura. Que a tua coragem e tenacidade nunca sejam ofuscadas ou diminuídas por pesos desnecessários. Já me revelaste palavras sábias. Palavras simples, mas tão sensatas e inspiradoras. 

Angel, que por tantos anos foste o meu pequenino. Como pude eu desperdiçar tempo em atitudes de mulher frustrada com a vida? Poderia ter tido muito mais da doçura desse teu olhar. Como pude procurar afazeres fúteis e desnecessários? Afinal de contas, a insatisfação continuava sempre lá.
Hoje, já adulto, revelaste facetas novas e desconhecidas para mim. Aquele rapazinho tímido, criativo e de aparência delicada, tornou-se um homem confiante e autossuficiente. Mantiveste a tua doçura. Mantêm-na sempre. É o que mais te define. Mantêm a integridade e a curiosidade sempre vivas em ti. É quem tu és! 

E agora tu minha Joana, minha "pixinguinha". Gosto de te chamar assim. O som e a musicalidade da palavra evocam-me a tua essência de mágica criatura da floresta. O teu coração sempre bateu diferente. Contagiava até aqueles indiferentes à alegria.
Agora tudo mudou. Em que momento ficou ele mudo? A tua infância foi diferente à dos teus irmãos. À ausência da minha presença devido ao trabalho, somou-se a ausência do meu espírito. Foram alguns anos de só corpo presente. Como o lamento minha filha. Olha para mim, não reescrevas a minha história.

Tu que viveste tão de perto todas as minhas mudanças, choraste comigo e celebraste as minhas novas conquistas.
Mudei por mim, mudei por ti e mudei pelos teus irmãos.
Confessas-me o teu desalento nesta vida, mas a tua desesperança faz-me agarrar ainda com mais afinco tudo o que considero ser o meu propósito. Tento resgatar-te desse lugar estranho onde te encontras. Não desisto!
Em breve escreverei sobre toda a minha vida.
Apesar de sempre termos estado juntos, da nossa cumplicidade e da transparência do nosso relacionamento, sinto que vos devo essa escrita meus filhos.

Que a minha história vos inspire. Sejam fiéis a vós mesmos. Valorizem a qualidade e não a quantidade. Seja na vida, experiências, relações ou nos bens materiais.
Filtrem tudo o que é fútil e sem propósito. Foquem-se no que é autêntico, genuíno e simples.
Não alimentem penas e tristes fados. Tocam-nos a todos as perdas, os lutos e as dores. Mas não se demorem nelas.
Honrem a vida que Deus vos brindou e honrem as vidas que eu engendrei e tanto amei - a vida de cada um de vós.
O tempo encarregar-se-á de vos lembrar que a vida é breve.
Espero, meus amados filhos, que os vossos sábios corações vos guiem, dia após dia, com amor que baste nas vossas mãos.
Que cada gesto, ação, pensamento vosso, sejam a semente e ao mesmo tempo a colheita desse mesmo amor.

Colham bem o vosso dia.
Colham bem a vossa vida.
(Carpe Diem)

Com Amor,
Mãe.