21 fevereiro, 2021

Índia 2018, Kerala - 2ª Parte


O autocarro.
Circular nas estradas indianas é uma experiência não aconselhada para cardíacos, mas todos acabam por se acostumar.
Foi precisamente num autocarro que pela primeira vez me senti verdadeiramente próxima à realidade deste povo encantador. Tanto o exterior como o interior do veículo eram pintados de cores vibrantes.
Junto ao primeiro assento e bem visível a todos, uma placa de metal gravada em relevo, com uma representação da fé cristã, hindu e islâmica.

Os homens, ao contrário do espectável, mostravam-se tímidos ou aparentemente indiferentes à nossa presença.
As mulheres sorriam muito. As crianças também.
O olhar ingénuo e crédulo destas pessoas simples, mas genuínas, foi o que mais me tocou. Se pudesse teria fotografado aqueles rostos, captado aquelas expressões.
Não era comum ver-se estrangeiros nestas pequenas localidades. Aliás, não nos cruzamos com nenhum.

A lotação do autocarro ia variando a cada paragem. Como fiz quase todo o percurso em pé, pude apreciar o vai e vem das pessoas. Nesta região convivem pacificamente três religiões. Pelas roupas que vestiam pude observar as diferenças. Principalmente nas mulheres. Hindus sorridentes nas suas vestes coloridas e negros cabelos irrepreensivelmente bem penteados e oleados. Muçulmanas de cabelo e corpo cobertos de tecido negro. Estas de rosto mais sério e circunspecto. A maioria levando os filhos às escolas. Por fim o mais surpreendente, algumas freiras católicas.
Era realmente um autocarro multicolor.

Aos poucos, a sensação de estranheza em relação a tudo foi-se dissipando. Apesar do  escasso contacto com forasteiros, estas gentes, este povo, fizera-me sentir em casa. Para além do bom acolhimento, experienciei uma tolerância recíproca e incondicional.
Não senti julgamento por ser diferente, apenas alvo de uma natural e genuína curiosidade.

(próxima publicação: Casamento Hindu)